Reference Tracks Parte 1


O processo de mixagem é tecnicamente complexo e ainda mais complexo é manter a coerência auditiva. Mascaramento, fadiga e nossa incrível capacidade de se "acostumar" com os sons tendem a interferir, muitas vezes negativamente, na nossa tomada de decisão. Muitas vezes  achamos que nossa mixagem está incrível e quando comparamos, já no processo de finalização e masterização, percebemos que tem coisas fora de lugar, que não soam tão bem... Resultado de todos esses fatores. 

Um procedimento muito usado por diversos profissionais aqui do Brasil e de fora, é a utilização de reference tracks, ou no bom português "músicas de referência". A utilização de reference tracks é muito interessante e importante, pois permite que o profissional consiga verificar no decorrer da mixagem se o espectro geral não está (excessivamente) longe dos padrões do mercado.

Claro que isso divide opiniões. Muitos acham que usar esse método massifica as mixagens ou mesmo prejudica uma boa mixagem, mas convenhamos, o cliente vai comparar, o ouvinte vai comparar. Se sua mixagem estiver muito longe dos padrões, a menos que isso seja extremamente intencional, você terá que refazer... Então compare você mesmo e evite trabalho extra.

O procedimento consiste simplesmente em escolher músicas coerentes com sua mixagem, que você goste e levar para dentro do seu projeto. Essas faixas deverão ser ouvidas de tempos em tempos durante o processo de mixagem. Isso vai "resetar o seu ouvido", permitindo que seus julgamentos sejam mais assertivos. 

Contudo, esse procedimento merece alguns cuidados. Uma coisa muito importante a se levar em consideração é: não queira igualar sua mixagem com a reference track! Em resumo, isso não é algo positivo e nem deve ser esse o propósito. Basta ouvir mixagens de diferentes artistas, álbuns e épocas. São muito diferentes, mas existe certa coesão. Se ouvirmos tudo em uma playlist, as diferenças não serão e nem podem ser muito grandes. Música mais antigas (70 pra trás) diferem demasiadamente das atuais em volume e timbre e exatamente por isso que diversos discos têm sido remasterizados ao longo do tempo.

O propósito do uso de referências é manter o ouvido coeso, evitando excessos. Não cabe aqui buscar timbre semelhantes, efeitos idênticos ou a mesma compressão e volume. A ideia é aproximar o expectro geral, evitar excessos ou faltas, porém sempre tentando manter sua própria mixagem. Muitos profissionais utilizam, inclusive, diversas faixas de referência para uma mesma música, usando umas para checar os graves, outras para colocação de determinado instrumento, outras ainda para plano de voz e assim por diante.

Com isso em mente tente montar seu disco de referência. Digo disco, porque é interessante manter, inclusive, uma quantidade controlada de músicas de referência. Pense em umas 10 ou 12. Mais do que isso pode causar mais confusão do que efetivamente ajudar. Divida seus discos em estilos musicais, caso você trabalhe com variações estilísticas muito drásticas... exemplo: MPB X Metal!

Como sugestão, monte um disco com músicas de diferentes épocas, coloque músicas suaves e outras agressivas e estude esse disco! Ouça muito, tente perceber a diferença de timbre, volume, dinâmica, etc. Essas músicas serão a sua âncora.

Pesquise também profissionais que você admira, veja quem mixou aquele disco que você adora, estude o cara. Defina algumas faixas dele como parte do seu CD. Um excelente site para descobrir quem mixou o quê, é o DISCOGS. Nele você encontra a ficha técnica de uma vasta lista de discos.

Por fim, tente escolher musicas que você realmente gosta! Ou que pelo menos não lhe desagrade. É importante respeitar isso. Uma música de excelente mixagem, mas que te incomoda, tende a prejudicar o processo de estudo e análise. Já passei por isso. Substitua por alguma do mesmo disco, ou procure alguma que tenha os mesmos elementos, mas que lhe agrade mais. Confie, isso faz diferença. Quem trabalha com mixagem tende a seguir um pensamento técnico e objetivo e isso é extremamente importante. Porém, música é sentimento, é vibração. Não dá pra ficar alheio a isso sempre, ou você corre o sério risco de não estar mais fazendo música, apenas girando botões e levantando faders...

No próximo post, vou listar as músicas presentes no meu disco de referência e o porquê da escolha de cada música. Talvez possa ser útil pra você. Até lá!

Abraços e Paz!

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