Reference Tracks Parte 2



Olá! Conforme prometido no post anterior, trago pra vocês o meu disco de referência e aproveito para explicar o porquê da escolha das músicas contidas nele.

Mas antes de começar, gostaria de fazer algumas observações:

Primeiramente este disco não cobre uma gama muito extensa de estilos. Na verdade ele é bem puxado para o rock e para o metal. Porém, algumas músicas abrangem estilos como pop, música eletrônica e country (que uso nas minhas mix sertanejas). E por que destes estilos? Porque são com esses que eu trabalho.

Convenhamos leitor, em raros casos veremos um engenheiro que consegue efetivamente se especializar em mais de 2 ou 3 estilos. Por mais habilidoso que ele seja, as referências mais fortes acabam dominando. É exatamente por isso que os artistas tendem a buscar profissionais de gravação e mixagem com trabalhos análogos estilisticamente ao que ele busca para seu próprio trabalho. Na maioria dos casos é isso que acaba sendo o primeiro quesito na escolha do profissional em questão. 

Outro ponto que gostaria de deixar registrado é que, efetivamente, é muito difícil selecionar 10 ou 12 música para seu disco de referência (o meu ficou com 13! rs) e já adianto que eventualmente você irá querer trocar as músicas desse disco e sinta-se vontade pra isso.  Apenas se esforce para manter uma quantidade controlada de músicas. Assim fica mais simples você setorizar e organizar os propósitos de cada uma delas e quando estiver trabalhando efetivamente, saberá rapidamente onde recorrer pra acertar o plano de voz, a quantidade de grave ou verificar se as guitarras estão estridentes.

Quando escolhi essas 13 músicas, muita coisa que gosto ficou de fora (isso vai acontecer com você também). Por isso eu tenho minha lista de 10 discos que SEMPRE ouço, seja pra aprender mais sobre mixagem, composição ou simplesmente porque gosto deles! Tenho também minhas músicas de referência para sons específicos, tais como som de violão, som de guitarra com muito drive, com pouco drive... Tenho listas com músicas com “climas” e sonoridades para me inspirar na hora de compor... Enfim, tá tudo organizado e isso alivia a barra do disco de referências, que tem seu próprio propósito: Ser minha base de comparação geral de mixagens! Caso eu tenha que mixar em um estúdio que não estou acostumado com a monitoração e a acústica, levo meu disco de referências; se tenho que opinar na mixagem de um amigo, uso ele para as comparações; tenho que mixar somente com o fones de ouvido, o disco de referência me ajudará a não cometer grandes equívocos... 

E ele será sua base por um motivo muito simples: ele foi feito pra isso! A escolha de cada música deve vir acrescida de um motivo que tenha relação com elementos técnicos de mixagem e é importante que você esteja ciente de cada um desses elementos. 

Bom, sem mais delongas confiram a seguir as músicas que escolhi para meu disco e o motivo de suas escolhas: 

Bjork e Sia

As duas artistas tem trabalhos espetaculares dentro da linha eletro pop (apesar de achar impossível classificar estilisticamente a Bjork). Para meu disco selecionei as músicas Army of Me (1996) e Move Your Body (2016), da Bjork e da Sia respectivamente. Motivos… Sons eletrônicos de extremo bom gosto e planos de voz incríveis.

Apesar da diferença de 20 anos de uma gravação para a outra, ambas tem um ponto em comum: o perfeito equilíbrio dos elementos extremos do espectro sonoro. Graves e agudos completam com precisão os espaços não ocupados pela voz. É uma forma de se pensar mixagens. Ouça qualquer trabalho da Adele e verifique por você mesmo. Tanto o arranjo quanto a mixagem em si, trabalham para “não atrapalhar” a voz, porém sem deixar que ela fique sozinha na música.

Deixo aqui registrado, para fins de estudo nessa área, o nome do excelente engenheiro de mixagem Manny Marroquim que tem carimbado sequências de grandes sucessos dentro do pop moderno desde tempos das Spice Girls, agregando em seu currículo uma vasta lista de grandes nomes, tais como Seal, Demi Lovato, Miley Cyrus, Rihanna, Adele, Magic!, Santana, John Legend, Justin Bieber, Eminem, John Mayer, Bruno Mars, Celine Dion, Linkin Park, Lady Gaga, Imagine Dragons, Alicia Keys, Lana Del Rey, Christina Aguilera, dentre outros. Se você trabalha com pop em qualquer nível, analisar as mixagens desse cara é uma tarefa obrigatória!

Trilhas Sonoras, Musica Eletrônica e Desespero... 

Tanto na música eletrônica, quanto nas trilhas sonoras, existe uma infinidade de possibilidades de composição e de mixagem. Quando você ouve trance music, house, dance, disco, o desespero bate! No geral são todas muito diferentes e específicas.

Exatamente por isso, busquei aliviar meu disco de referência… 

Para trilhas sonoras, me sinto bem livre, ouço Hans Zimmer, Daniel Despret, John Willians e trilhas de que gosto, levando em consideração o fato de estar mais ou menos no mesmo “clima” da trilha em que estou trabalhando. Recentemente fiz uma abertura para um pequeno jornal e usei as aberturas dos jornais mais famosos como referência. Simples assim. Portanto, não tem nenhuma trilha sonora no meu disco de referência... 

Quanto a música eletrônica, como não faço tantas e quando me arrisco são em elementos pontuais, uso as que citei anteriormente (Sia e Bjork). Para músicas com voz e para músicas instrumentais costumo usar como ponto de partida a música Fly, do ( ou dos?) artista chamado Tristam_Bracken. Essa músic combina um bom equilíbrio de batidas eletrônicas com sintetizadores bem densos e isso me ajuda a colocar as coisas no lugar… Porém, me sinto absolutamente livre para usar outras, caso sinta necessidade. 

Iron Maiden, Dream Theater e Joe Bonamassa

Coloquei em meu disco de referência, duas músicas do Iron Maiden, duas do Dream Theater e uma música do Joe Bonamassa. Posteriormente descobri que essas músicas tinham algo em comum: a mixagem de um cara chamado Kevin “Caverman” Shirley! Qualquer trabalho dele vale uma boa ouvida… Procure saber, leitor! 

Uma das músicas do Iron Maiden presentes no meus disco é intitulada The Ghost of Navigator, do álbum Brave New World (2000). Nessa mixagem do Caverman, você tem um perfeito exemplo de como todos os instrumentos podem ser ouvidos sem digladiarem-se! Se atente a caixa da bateria e como ela se destaca mesmo com as paredes de guitarra distorcida! É matador! E acredite, difícil de ser feito. Sempre uso essa faixa para dar uma "situada" nas minhas caixas de bateria.

A outra faixa, é a Be Quick Or Be Dead de 1992, do álbum Fear Of The Dark. Este álbum é até hoje considerado um dos mais (se não o mais) pesados da banda. Eu adoro como os reverbs funcionam bem nessa música. Ela possuiu notas muito rápidas, mas nada embola aqui. Talvez hoje ela esteja um pouco datada e dificilmente alguém vai querer tanta reverberação nas mixagens, mas aí é que está a beleza da coisa… É possível perceber a regulagem da reverberação sem muito esforço, isso ajuda a “encontrar” o ponto ideal desse efeito. Depois, basta abaixar um pouco ajustando aos padrões mais atuais. Fica a dica! 

Reverbs a parte, Be Quick Or Be Dead é uma incrível referência para mixagens de metal tradicional. Observe como a voz é presente, mas não alta. O som do baixo é definido, mas não tem aquele timbre fanhoso, excessivamente médio e as guitarras estão presentes todo o tempo, mas não encobrem nada na mix, nem dão aquela sensação de fadiga.
 
Seguindo com as referências, temos mais um trabalho de Kevin Shirley, agora em 2016, no disco Blues Of Desperation, onde a faixa Mountain Climbing de Joe Bonamassa, que é um blues rock bem cheio, se tornou minha referência exclusiva para mixar hard rock ao estilo ACDC e rock n roll mais cru. Se atente a ambiência da bateria que, junto ao bom timbre do baixo, preenche todo espectro onde a voz e as guitarras não chegam. Observe também como um riff simples de guitarra pode ser tudo que a música precisa para soar pesada e sólida. É incrível!

Por fim, tendo trabalhado nos discos Falling Into Infinity (1997), Scenes From A Memory (1999), Six Degrees Of Inner Turbulence (2002), Train Of Throught (2004), Kevin é uma figura carimbada nos trabalhos do Dream Theater. Ele é o responsável pela poderosa faixa Honor Thy Father do álbum Train of Throught (uma das faixas que acabei selecionando para meu disco de referências). Essa faixa me permite perceber muito bem como colocar o panorama, a reverberação e a timbragem de uma bateria para metal ou prog. As guitarras são muito bem colocadas, apesar de não achar que seja os melhores timbres que John Petrucci já produziu.

Uma observação pertinente: para meus ouvidos e gosto pessoal, acho esse disco um tanto comprimido. A dinâmica das músicas fica um pouco prejudicada… Ouça a faixa In The Name Of God. Ela começa com apenas uma guitarra limpa dobrada com violão e depois entra a banda. Na real, era pra haver um impacto! Mas essa dinâmica fica muito prejudicada por conta do excesso de compressão. Isso acontece e apesar de haverem álbuns bem piores nesse quesito, vejo que hoje o excesso de compressão e volume tem se tornado um tanto natural no metal extremo. Na minha opinião, estamos excedendo um pouco nesse ponto e deixando excelentes discos ficarem praticamente impossíveis de serem ouvidos sem causar fadiga... É apenas algo pra se pensar. 

A segunda faixa do Dream presente no disco é a In The Presence Of Enemies - Part II do disco Systematic Chaos de 2007, mixado por Paul Northfield muito reconhecido por seus trabalhos com Rush, Ozzy Osbourn, Steve Howe, Queensrÿche, Vinnie Moore, dentre outros. Essa faixa é pra mim o ponto ideal de uma mix para progmetal. Os timbres gerais, valorizam tanto as notas lentas quanto rápidas, a mix permite ambiências sem ficar datada. A bateria tem um timbre fanático, pesado e definindo, sem que, pra isso, tenha que fazer uso do excesso de compressão. Temos também os timbres de guitarra, que estão fenomenais! Tanto os sons de base quanto de solos. Se você quer ouvir um verdadeiro som do amplificador Mesa Boogie, tá aí nessa música. Os sons de teclados são de extremo bom gosto e se encaixam perfeitamente sem “brigar” com a guitarra. A voz ainda sobressai a tudo isso. Vale uma conferida! 

Bom, fechamos por aqui… Por enquanto! O post já está bem extenso. No próximo, terminarei de mostrar o restante das músicas e posto a lista completa e organizada.

Abraços e Paz!

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